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Out 13

São Paulo, SP, 10 de Outubro de 2016 – Após atravessar um primeiro semestre turbulento, com margens negativas e dificuldades para repassar o custo mais alto com ração ao preço do produto final, a indústria brasileira de carne de frango começa a exibir sinais de recuperação que já animam analistas em relação ao desempenho do segmento no ano que vem.

Em tempos de recessão, a dificuldade para reajustar o preço da carne de frango, que é a proteína mais consumida no país, foi em parte compensada por um forte corte da produção. Até então no vermelho, a indústria, assim, voltou a ter rentabilidade em agosto.

Deflagrada em julho a partir da paralisação parcial de abatedouros e do fechamento de unidades – nem gigantes como BRF e JBS conseguiram evitar tais medidas -, a redução forçada na produção de frango surtiu efeito.

Os preços da proteína vinham patinando até julho, quando estavam abaixo de R$ 4,00 por quilo. Mas desde meados daquele mês o preço do frango congelado no atacado da Grande São Paulo se recuperou e já acumula valorização de mais de 15% -a R$ 4,59 o quilo, de acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que é vinculado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

Os dados de alojamentos de pintos de corte – indicativo da produção futura de carne de frango – mostram a dimensão do ajuste promovido. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Pintos de Corte (Apinco), o número de animais alojados nas granjas caiu 10,2% em julho e mais 1% em agosto, na comparação com os mesmos meses do ano passado. Os números de alojamentos de setembro ainda não foram fechados pela entidade, mas a estimativa é que tenha havido redução de 7%.

Com os dados da Apinco, também é possível observar a reversão gradual do quadro de superoferta de frango no Brasil, que chegou a ser apontado recentemente pelo CEO global da BRF, Pedro Faria, como obstáculo para promover o reajuste de preços necessário para recompor as margens da indústria.

No primeiro semestre, auge da superoferta, a produção de pintos de corte cresceu 3,8%. No acumulado de 2016 até agosto, porém, a taxa de crescimento recuou para 1,3%. Na avaliação do agrônomo César Castro Alves, analista da MB Agro, braço da consultoria MB Associados, a forte redução da produção de carne de frango no segundo semestre tende a “anular” o crescimento da primeira metade deste ano.

Nesse cenário, o segmento voltou ao azul. De acordo com cálculos da MB Agro, a margem bruta da indústria de carne de frango baseada no sistema de integração foi de 4% em agosto e de 5% em setembro. Trata-se de uma melhora substancial na comparação com os meses anteriores – em junho, a margem ficou negativa em 11%.

Ainda assim, no acumulado dos nove primeiros meses de 2016 a margem bruta ficou negativa em 6%, disse Alves. Com a recuperação dos preços, a tendência é que as margens da indústria de carne de frango continuem melhorando ao longo do ano. “Já temos um quarto trimestre com margens bem interessantes”, afirmou Adolfo Fontes, analista de carnes do Rabobank.

Além da recuperação dos preços da carne de frango, os preços do milho também contribuíram. Apesar de ainda seguirem em patamar elevado – o valor médio de janeiro a setembro foi quase 70% maior que em igual intervalo de 2015 -, as cotações do cereal, que é o principal ingrediente da ração animal, refluíram. Termômetro desse movimento é o indicador Esalq/BM&FBovespa, que em setembro atingiu uma média 17% inferior ao recorde alcançado em maio, quando a marca de R$ 50 a saca chegou a ser superada.

De acordo com Fontes, a combinação entre a queda dos preços do milho e a alta das cotações da carne ampliaram o poder de compra do produtor de frango. Segundo levantamento do Rabobank, era possível comprar apenas 3,45 quilos de ração com um quilo de frango em maio. Nesta semana, porém, já era possível comprar 5,53 quilos de ração. A média desde 2012 é de 5,09 quilos de ração, afirmou ele.

Apesar da melhora do poder de compra, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o ex-ministro da Agricultura Francisco Turra, ainda conta com as importações de milho transgênico dos Estados Unidos para que os preços do cereal se reduzam ainda mais. Na semana passada, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a importação de três variedades de milho americano, mas os primeiros embarques ainda podem demorar mais de um mês.

“O consumidor não tem como pagar mais pelo frango e a agroindústria não suporta mais. Mas a tendência é dar uma melhorada, especialmente por causa dos Estados Unidos”, disse o presidente da ABPA.

Para 2017, a expectativa de Turra é que o balanço entre oferta e demanda esteja equilibrado. “O corte de produção é para efetivamente enxugar a oferta para o começo do ano”, concordou César Castro Alves, da MB Agro.

De acordo com o analista, o corte da produção realizado fará com que a oferta não seja tão elevada no início do ano que vem, o que é positivo para a indústria tendo em vista que o período é, tradicionalmente, de menor consumo de carnes. Mas há também outras variáveis favoráveis para o segmento, como o esperado aumento da produção brasileira de milho e a melhora do mercado consumidor brasileiro em 2017, apontou Alves.

Fonte: Valor Econômico (Luiz Henrique Mendes)

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